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É preciso acreditar na Palavra (14º DTC)

7 jul

Profeta: anúncio do Reino e denúncia do contrareino

“Pois, quando eu me sinto fraco, é então que sou forte” (2Cor 12,10). Essas palavras de Paulo, no final da segunda leitura de hoje (08/07/12), revelam como aparentemente é antagônico a vida daqueles que desejam fazer a experiência do seguimento de Jesus. É fazendo-se fraco que Jesus emerge na vida de cada um de nós. De qual fraqueza Paulo trata? Com certeza, não é a do corpo, vulnerável a qualquer tipo de doença ou moléstia. O apóstolo quer acentuar a fraqueza daquilo que nos afasta de Deus, e que Jesus tanto combateu ao se encarnar em nosso meio.

Uma dessas fraquezas a primeira leitura nos apresenta. O profeta Ezequiel, sob ação do Espírito, é enviado aos israelitas que insistem em sua infidelidade com Deus. “Cabeça dura e coração de pedra” (Ez 2,4) revela um povo que não compreende a palavra de Deus e até rejeita a voz do profeta, que é enviado para anunciar as maravilhas e promessas de Deus e denunciar as infidelidades do povo eleito.

A arrogância que Paulo combate, é observada nos conterrâneos de Jesus Cristo, na narração do evangelho. Eles não compreendem o novo ensinamento que Jesus apresenta. Embora admirassem a pregação do Filho do carpinteiro, ficaram escandalizados. Jesus constata surpreso a falta de fé dos patrícios. Ainda estão presos as estruturas antigas onde só tem poder aquele que está na alta hierarquia do governo, desprezando assim os preferidos de Deus: os pequenos e humildes. O poder de Jesus é outro. Está enraizado na prática do amor, que acolhe e ampara os sofredores. A arrogância de muitos em Nazaré, é contraposta com esse novo ensinamento de Jesus, baseado também na humildade.

A prática de Jesus só terá vazão em cada um de nós, se despojarmos das amarras do orgulho, da arrogância, da soberba, de tudo que nos impede de aproximar de Deus e, por conseguinte, do próximo. É preciso fazer uma kenosis, ou seja, um esvaziamento dos nossos preconceitos para que o amor de Deus transborde nesse espaço. Só assim Ele poderá habitar os corações de pedra, frios, sem amor, transformando-os em verdadeiros espaços para ação do Espírito Santo. (EAC)

Comentário das leituras da “Ascensão do Senhor”

19 maio

Na Solenidade da Ascensão do Senhor, a liturgia do domingo convida à reflexão sobre o envio de cada um de nós a sermos discípulos e missionários de Jesus Cristo, como testemunhas de sua palavra, “até os confins da terra” (cf. At 1,8). Esse testemunho, conforme Atos dos Apóstolos está amparado na presença e no “poder” e na ação evangelizadora e santificadora do Espírito Santo.

Jesus ascende aos céus, conforme Paulo escreve à comunidade de Efésios, afirmando que “Aquele que desceu é o mesmo que subiu” (cf. Ef 1,10), ou seja, não há distinção entre o Jesus humano e o Jesus divino. Aquele que morreu na cruz é o ressuscitado, que agora, de forma definitiva, estará junto do Pai intercedendo por todos nós.

O Seu ascendimento não deixou seus seguidores abandonados. Ele promete e envia o paráclito, o advogado, o Espírito Santo para nos vivificar na fé e sermos verdadeiras testemunhas do seu amor.

Se o Espírito habita em nós e se somos templo desse mesmo Espírito, não podemos ficar parados diante das injustiças e esperando resposta do “céu”. A nossa prática pastoral deve ser alicerçada pela oração. São duas ações conjuntas, inseparáveis, semelhantes às que o Cristo revelou. Uma sem a outra deixa a nossa fé perneta, descompassada, distante daquilo que São Tiago adverte em sua carta: “A fé sem obras é completamente morta” (cf. Tg 2,17).

No Evangelho, o próprio Jesus faz o envio de seus discípulos “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” (cf.Mc 16,15). Aos que crerem na mensagem do Evangelho, esses não serão mais os mesmos. A vida não será mais a mesma, sinais de um novo modo de ser e de agir serão visíveis. Os muitos “demônios” incutidos nas relações humanas serão expulsos: todos os tipos de vícios, orgulho, drogas, violência; novas linguagens serão conhecidas: a do respeito mútuo, da solidariedade, da compaixão da misericórdia, todas oriundas do amor; terão, inclusive, o poder de abençoar e curar os doentes. Tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, em nome de mais ninguém!

Oração e testemunho da palavra são atitudes comunicacionais de Jesus Cristo. O Papa relembra essa comunicação no Dia Mundial das Comunicações Sociais, comemorado no dia de hoje. “Silêncio e Palavra” são atitudes elementares para o cristão. Escutar a Deus no silêncio do coração, é saber identificar os gritos que surgem diante das injustiças sociais e, à luz da Palavra, como profetas, denunciá-las para que todos possam ter vida ”e vida em abundância” (Jo 10,10). (E.A.C)

Domingo da alegria; seguir a luz de Cristo

11 dez

A Igreja celebra neste domingo a terceira semana do Advento. O tema da liturgia de hoje, já prenunciando a chegada do natal do Senhor, é a alegria. Este deve ser o sentimento diante da nova realidade quando, pelo batismo, somos agraciados com a filiação Divina.
É a alegria exultante apontada pelo profeta Isaías, na primeira leitura, quando apresenta a ação do Espírito de Deus na vida do profeta que o lança a fazer o anúncio da boa-nova ao povo oprimido. Estar na graça de Deus, mergulhado no seu Espírito, é motivo de esperança e de alegria.
O projeto dessa nova sociedade é assumido por Jesus Cristo. Por isso, a figura de João Batista tratada no evangelho de João, revela algo importante para nós: seu testemunho de fé. Era tão forte e eficaz seu anúncio e prática que muitos o confundiam como o messias. João incomodava. Ele denunciava o sistema opressor da religião e do Estado. Ele sabia que seu testemunho provocava a ira e a inveja de muitas pessoas. A sua alegria estava em “aplainar o caminho do Senhor”, preparar as pessoas para a vinda do verdadeiro e único messias. João dava testemunho da luz; a luz verdadeira era, e continuará sendo, Jesus Cristo.
João alerta a cada um de nós: cuidado com as “luzes” que prometem felicidade fácil, o crescimento econômico pautado na teologia da retribuição, o acúmulo de coisas; muitas luzes distraem nossa fé, deixa a gente longe, distante, quase não enxergando a luz redentora do Filho de Deus que se encarnou em nosso meio.
Seguir a luz que direciona nosso caminho rumo ao Pai é motivo de alegria. São Paulo, na carta aos Tessalonicenses, vai reafirmar essa condição festiva quando estamos fazendo a vontade de Deus, seguindo os passos de Jesus Cristo. Esse desejo Divino motiva cada um de nós a vivermos, a buscarmos, intensamente nossa santificação. Desta forma, como diz o próprio Jesus “Sede santo como Vosso Pai é santo”, estaremos preparados para a segunda vinda do Senhor, só que agora imaculados, sem mancha, porque nosso pecado está redimido com a entrega total que Jesus fez na cruz.
Neste domingo da alegria a gente possa, de fato, caminhar mais um passo em direção à chegada de Jesus. A festa da encarnação de Deus em nosso meio. Ele se fez um de nós, por amor do Pai, para que pudéssemos visibilizar o seu infinito amor pela humanidade.
Neste domingo, cabe a cada um de nós perguntarmos como estamos vivendo para a chegada do Natal. Estamos distraídos com as muitas “luzes” que nos são oferecidas nesse tempo? Estamos dando mais espaço aos enfeites, aos presentes, aos penduricalhos, do que celebrarmos a encarnação do Verbo que se fez um de nós? (EAC)