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Agosto: mês vocacional por excelência

14 ago

Somos todos vocacionados à vida!

Neste mês a Igreja dedica carinho especial à reflexão e oração pelas vocações. É o mês vocacional por excelência. Vocação é a “disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão”. Essa orientação não é uma ação apenas humana, mas sim Divina. É Deus quem age na história e nos convoca para viver à sua “imagem e semelhança” nosso batismo. É por esse sacramento que nascemos para uma vida nova, agora sob o paradigma de Jesus Cristo, expressão máxima do amor de Deus por toda a Sua criação.O Papa Bento XVI, na mensagem pelo 49º Dia Mundial de Oração Pelas Vocações, propunha como reflexão a “vocação como dom do amor de Deus”. Esse amor, vivido em todas as dimensões da pessoa, deve impulsionar a vida cristã para uma abertura ao Divino. Esse encontro se torna possível e viável porque direcionamos nosso amor ao próprio Deus e ao próximo.

O tema, portanto, deste mês vocacional é pertinente: “Chamados à vida plena em Cristo!”. Jesus Cristo é modelo de vida plena, pois é extensão do amor de Deus. Deus chama a cada um de nós a todo o momento. Somos convocados porque alguém precisa de nós. É preciso, pois, saber escutar o chamamento de Deus. Condição essencial para isso é silenciar-se e ouvir o que Ele quer falar. Quando nossa atenção se volta para outros “chamados” (egoísmo, intolerância, indiferença, individualismo), nos afastamos do amor de Deus e sufocamos nossa vocação.

A vida é plena em Cristo, mas deve ser exercida, praticada, direcionada a partir da perspectiva vocacional de cada um. Se a vocação é para o Ministério Ordenado (primeiro domingo de agosto), que seja exercido no amor ao próximo e no serviço pastoral; se é para a Vida em Família (segundo domingo), que seja na prática fraterna da dedicação aos filhos, na geração de vida, do respeito mútuo, da construção de valores; caso a vocação é para a Vida Consagrada (terceiro domingo), não obstante remeta a esses(as) vocacionados(as) o ardor de permanecer na contemplação orante da Palavra e na assistência ao próximo; se é para os Ministros Não Ordenados (quarto domingo), onde aqui se inserem todos os cristãos, que esses exerçam sua vocação na assunção dos diversos ministérios da paróquia/comunidade, testemunhando e difundindo no seu local de trabalho, de estudo, ou de lazer, o Evangelho, a boa-nova do Reino de Deus.

“Vem e segue-me” é o convite que Jesus faz a cada batizado. É um chamado que amadurece ao longo da vida, até o nosso “sim” final. Embora teimemos em postergar nosso aceite, Deus não desiste e vai chamando a cada um pelo nome.

Que Nossa Senhora, mãe da Igreja e modelo dos seguidores do Evangelho, ajude-nos a responder “sim” ao chamado de Deus e, assim, possamos viver a vocação nossa de cada dia! Amém. (EAC)

Nos passos de Maria para seguir Jesus

27 out

Caminhar com Maria para seguir Jesus” é o título da obra de José Adriano Gonçalves, publicado pela Paulus, São Paulo, no ano de 2010, que integra a coleção Temas Marianos lançada pela própria editora.

O livro apresenta uma espécie de itinerário mariano que deve ser seguido. O objetivo é fazer a experiência do seguimento a Jesus Cristo.  Para alcançar essa meta, o autor esmiuçou a obra em 42 tópicos, pequenos capítulos. A história desenrola-se num crescente de fatos e ações históricas envolvendo Maria e seu Filho, Jesus.

Apesar de o livro não apresentar uma subdivisão por capítulos, é possível notar a preocupação do autor em fazer uma narrativa seguindo os moldes do evangelho. Do capítulo I ao XIII desenrola-se a vida pessoal de Maria, do seu “sim” a Deus até o casamento com José. No XIV capítulo o texto apresenta o nascimento de Jesus, e aí se seguem outros capítulos retratando a vida do messias e da sua família. O ponto culminante desse bloco está entre os capítulos XXX e XXXII, onde é retratada a páscoa de Jesus: prisão e condenação à morte, a sua ressurreição e ascensão; e as dores de Maria. Num terceiro conjunto de capítulos, a figura de Maria é realçada em momentos significativos da comunidade após o evento Jesus Cristo, apontando para o seu caráter de missionariedade e discipulado. Nos capítulos XXXVII e XXXVIII o autor apresenta uma série de depoimentos pessoais, na qual Maria intercedeu para que a graça fosse alcançada. No último capítulo, uma carta de despedida do autor para Maria. É um texto de louvor diante da fragilidade humana, mas que encontra na fé mariana consolo e força para superar as dificuldades.

O autor adota uma dinâmica de apresentação textual interessante. Com a divisão em vários capítulos (41 no total), permite ao leitor a leitura fracionada, com temas independentes. Desta forma, a motivação é partilhada em cada situação vivida por Maria ou Jesus.

Dentre os objetivos propostos pelo autor da obra, posso considerar como fundamental a sua preocupação em destacar a figura de Maria como parte relevante da história da salvação. Para os leitores desse livro, tanto as pessoas engajadas numa comunidade, quanto aos neófitos na fé, não há dificuldades em interpretá-la e entendê-la.

Durante muitos anos o devocionismo mariano foi sobrevalorizado. A partir do Vaticano II, a Igreja pretendeu atenuar essa situação, apontando para a real importância da devoção. Neste sentido “Caminhar com Maria para seguir Jesus” contribui para elucidar o papel que Maria ocupa como mãe de Jesus.

A fragmentação da obra em muitos capítulos dificulta uma apresentação pormenorizada desses. No entanto, quero destacar elementos registrados pelo autor que merecem ser anotados. O primeiro destaque se apresenta no segundo capítulo: a radicalidade da adesão de Maria à proposta de ser a mãe do Senhor. O autor compara esse “sim” de Maria à nossa adesão diária ao chamamento de Deus. Outro elemento chave da obra está no capítulo XI. Além de dizer “sim” a Deus, é preciso constantemente negar tudo que possa nos desviar do caminho de Deus. “(…) que o nosso ‘não’ a tudo o que contraria o Mestre seja autêntico, denunciando profeticamente as injustiças do mundo” (pág. 32). No capítulo XXV o cume da obra: Maria como mediadora e intercessora da fé, mas ela própria afirma “fazei tudo o que Ele (Jesus) vos disser”. Por fim, não poderia deixar de anotar os capítulos que tratam de Maria após o evento pascal de Jesus. Ela presente no Pentecostes, na missão da Igreja primitiva, a sua assunção e a presença do Espírito Santo. Ao final, o autor conclui a obra com relatos e experiências pessoais da presença mediadora de Maria.

Embora o autor enfatize em várias passagens a relevância do evento Jesus de Nazaré, ele não minimaliza a importância de Maria dentro do contexto da história da salvação. “Maria foi mestra de Jesus (…). Ela é o símbolo da fé que vive exclusivamente para Deus (…). Ela é modelo para todos nós, valorizando as pequenas coisas da vida, na simplicidade de viver” (pág. 54). Para José Adriano “Maria não é apêndice, ela é fundamental na execução do projeto em si”.

No afã de equilibrar as correntes mariana e cristológica, o autor é capaz de afirmar numa sentença que Maria é “o caminho mais direto, curto e rápido para Cristo”, e contradizê-lo no parágrafo seguinte: “É bom ressaltar que Maria não faz milagres. Ela é criatura como nós” (pág. 118).

O autor adota uma postura de equilíbrio ao tratar de Maria e Jesus. Essa é a ideia central da obra. Ele a defende, em todos os capítulos, ora apontando para a cristologia soteriológica, ora enaltecendo as intercessões marianas. Do ponto de vista textual o autor cumpre satisfatoriamente seu intento, embora cometa exageros, como os verificados nos capítulos XXVIII e XXXIX. No entendimento algumas considerações, a começar pelo título do livro. Por que não caminhar como o Mestre caminhou? Viver como Jesus viveu? Amar a Deus como Ele amou? Maria assim o fez, claro, e por isso é um modelo de fé para a Igreja. Nós também podemos fazer esse itinerário cristológico, direto, acompanhado pelo Senhor. Outro ponto a considerar são as comparações, demasiadas, com Maria.

O autor quer ressaltar que “caminhar” com Maria o acesso ao Filho é imediato, mas no excesso comparativo dá a entender que ela é a única “ponte” para Jesus.

Mesmo com essas ressalvas, em nada diminui a importância e a contribuição teológica que a obra proporciona. Aliás, o livro vai ao encontro do que apontou o Santo Padre Papa Paulo VI: “Antes de mais nada, a Virgem Maria foi sempre proposta pela Igreja à imitação dos fiéis, não exatamente pelo tipo de vida que ela levou ou, menos ainda, por causa do ambiente sócio-cultural em que desenrolou a sua existência, hoje superado quase por toda a parte; mas sim, porque, nas condições concretas da sua vida, ela aderiu total e responsavelmente à vontade de Deus (…).” (Por Eduardo Araújo de Castro, 4º Teologia – Noturno)