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O povo de Deus em missão (15º DTC)

15 jul

Todo batizado deve continuar a missão de Jesus Cristo

Na primeira leitura dois sacerdotes travam um diálogo: Amasias e Amós. Este serve a Deus, chamado a ser oráculo do Senhor por vocação; aquele, funcionário do rei, defende os interesses do poder dominante. Ambos defendem um projeto. O do dominador, na qual está inserido Amasias, quer cada vez um povo oprimido e escravo, uma servil ao rei. O do libertador, ao contrário, prioriza a liberdade como fonte de felicidade e de realização humana; deseja um povo irmão, capaz de amar e de servir o próximo, não por obrigação, mas por amor.

O profeta profissional anuncia os interesses daquilo que o seu rei deseja. O profeta de vocação revela aquilo que Deus anuncia, é um servidor da Palavra, por isso denuncia também as injustiças contra o povo. Não pode se calar diante da opressão e da corrupção. O seu Deus é da justiça e da verdade. Por isso, envia Amós “Vai profetizar para Israel, meu povo”.

Amós reafirma que não é profeta ou filho de profeta, porque não é uma opção pessoal ou hereditária, ou profissional, é o Senhor Deus que chama a cada um de nós a ser profeta e missionário. Não há distinção de pessoa no chamado de Deus. Quando Deus nos escolhe nãoadianta fugir. Ele nos prepara e nos envia em missão.

Já a segunda leitura é um hino de louvor a Deus. Na gratuidade da missão de cada um de nós, Deus nos confirma para que sejamos santos e irrepreensíveis no amor ao próximo. Pelo Batismo somos enxertados na videira, cujo tronco é Jesus Cristo, assim somos predestinados para sermos filhos adotivos de Deus por intermédio do Messias. A nossa santificação se dá pela ação do Espírito Santo e na prática do amor ao próximo. Jesus é o evangelho vivo, encarnado, que veio nos mostrar o Pai.

 O Evangelho apresenta Jesus enviando os discípulos em missão. Para ser missionário do Pai é preciso desprender daquilo que nos aprisiona e nos afasta da verdadeira missão. Não precisamos carregar “coisas” demais, o desprendimento requer que acreditamos e depositemos a fé num único Deus. Não precisamos de falsos deuses, assim como o profeta Amós denuncia os pseudos profetas. O caminho para Deus está cheio de obstáculos, temos muitos motivos para passar ao largo do verdadeiro trajeto que conduz à felicidade, preferimos, muitas vezes, optar pela felicidade efêmera, passageira, baseada nas tentações do ser, do ter e do poder.

A nossa missão começa quando cada um de nós, de coração aberto a Deus, se converte. A minha conversão primeiro, depois a do outro. Como discípulos e missionários de Deus, como afirma o Documento de Aparecida, somos chamados a seguir de perto os passos de Jesus Cristo. Estaremos cada vez mais parecidos com o Mestre à medida que praticarmos as bem-aventuranças do Reino, no acolhimento ao necessitado, ao doente, na prática da caridade e no cumprimento à missão.

Cada um de nós tem uma missão. Jesus chamou seus discípulos para uma missão precisa, a de anunciar a boa-nova do Reino a todas as nações. Quanto mais estamos enxertados na videira que é Jesus, mais felizes nós devemos estar e anunciar com alegria esse encontro.

A missão não é a elaboração de um programa de tarefas a serem cumpridas ou a conclusão de um projeto, como assinala o Documento de Aparecida, mas sim a experiência do “acontecimento do encontro com Cristo, testemunhá-lo e anunciá-lo de pessoa a pessoa, de comunidade a comunidade (…) (DA 145).

O discípulo missionário sabe que “sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há presente, não há futuro” (DA 146). Cada um de nós deve tornar visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para com os pobres e pecadores, os doentes de toda natureza (física, psicológica, espiritual) e os possuídos pelo demônio (aqueles que causam intrigas e dividem a comunidade, famílias, relações etc.).

Quando estamos imbuídos dessa missão, como vocacionados por Deus, como Amós na primeira leitura, unidos a Cristo no seu amor, aí estaremos caminhando para nossa santidade. Para que assim vivamos não o conseguiremos sozinhos, valendo-se apenas das nossas próprias forças e desejos, Deus envia o Espírito Santo para nos vitalizar e encorajar nessa missão. Somos marcados com esse selo do Espírito, como afirma Paulo na carta aos Efésios.

Na carta aos Coríntios, Paulo apresenta uma imagem bonita dessa presença pneumatológica: “São vocês uma carta de Cristo redigida por nosso ministério e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo”.

A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro dos discípulos com Jesus Cristo, mas é ao mesmo tempo fonte inextinguível do impulso missionário. (EAC)