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São João Batista

25 jun

Nascimento SãoJoãoEste mês a Igreja celebra, dentro do seu calendário litúrgico, a memória dos santos que são homenageados nas festas juninas. A história deles, no entanto, é reverenciada pelo testemunho que deram em favor do evangelho e do seu anúncio. Em diferentes momentos da história, e com particularidades próprias, cada um deles pôde levar adiante o mandado deixado por Jesus Cristo: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21).

Embora todos os santos juninos sejam importantes, quero destacar aquele que foi o precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo: João Batista. Ele é tão relevante que a Igreja faz memória do seu martírio (29/08) e festeja seu nascimento (24/06) de modo solene.

A vida de João Batista, como os evangelhos narram, é marcada pelo anúncio da vinda do messias e pela denúncia do modo de vida das pessoas. Ele próprio se identifica como a “voz que clama no deserto”. Quer dizer, João era a palavra que gritava no deserto, mostrando à sociedade a necessidade de andar em novos caminhos.

Na solenidade do nascimento de João Batista, um profeta, um homem da palavra, existe um convite para olharmos a Igreja do ponto de vista profético. A Igreja tem consigo a missão de ser profética e, por isso, ela tem uma palavra que nem sempre é ouvida ou, na maior parte das vezes, mal ouvida e mal interpretada. Aquilo que aconteceu com os profetas do Antigo Testamento, o que aconteceu com João Batista e com o próprio Jesus, acontece com a Igreja. É perseguida, é mal compreendida, é contestada por um único motivo: porque sua palavra profética não se afina com muitos modos de pensar e agir na sociedade atual.

Olhando para João Batista, compreendemos que ele estava no mesmo caminho de Isaías; que Paulo estava no mesmo caminho de João Batista e que a Igreja, continua nesse caminho para ser fiel à vocação profética de dizer a palavra que não é dela, mas de Deus, em vista de preparar um povo santo para o Senhor.

A importância de João é também reconhecida pelo próprio Jesus que tece elogios a ele, segundo aponta o evangelista Lucas: “Jamais surgiu entre os nascidos de mulher alguém maior do que João Batista”. A Igreja também o lembra como o último dos profetas, encerrando assim a tradição profética do Primeiro Testamento.

Por isso é que na festa de São João, o ponto central é o acendimento da fogueira, pois esta recorda aquela primeira feita pelos pais de João para comunicar o seu nascimento, sinalizando a ligação entre a antiga e a nova aliança. Essa luz irradiada nos orienta a caminhar nossa vida segundo os desígnios do Cristo, seguir os seus passos e testemunharmos nossa fé, assim como fez o Batista. Aos santos das festas juninas, rogai por nós…

Evangelizar em tempos modernos

17 fev

ImagemNos primeiros versículos dos Atos dos Apóstolos (1,8) encontramos o mote principal de todo o livro: “Mas recebereis o poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
O autor dos Atos referindo-se ao “até os confins da terra” talvez não tivesse imaginado que essa evangelização pudesse chegar ao patamar de abrangência como temos hoje, e isso graças aos meios de comunicação. De modo muito particular, por causa da comunicação exercida nas redes sociais.
O Papa João Paulo II já afirmava que nós, católicos, não deveríamos temer os modernos meios de comunicação social e as novas tecnologias (Carta Apostólica O Rápido Desenvolvimento, 24/01/2005), isso porque, certamente, deveria ser usado a favor da propagação do reino de Deus. Afirmação semelhante revelou-nos o então Papa Bento XVI, na sua mensagem para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2013, “As redes facilitam a partilha dos recursos espirituais e litúrgicos, tornando as pessoas capazes de rezar com um revigorado sentido de proximidade àqueles que professam a sua fé”.
Na comunicação digital homens e mulheres se encontram, dialogam, relatam suas experiências de vida e de oração. Pessoas com interesses em determinadas vertentes religiosas se agrupam, meditam e partilham a Palavra de Deus. Esse, no entanto, é um primeiro passo. É preciso superar essa barreira virtual e partir para o encontro pessoal, humanitário e acolhedor, como exemplificou Nosso Senhor Jesus Cristo, na parábola do “Bom samaritano” (Lc 10,30-37).
O Papa Francisco ao se referir à evangelização no mundo virtual, na mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, destaca que os meios de comunicação de massa “podem ajudar a sentir-nos mais próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna”.
Evangelizar até “os confins da terra” nunca esteve tão próximo de cada um de nós, ou melhor, está em nossas mãos. No entanto, O atual Papa faz uma advertência relevante e nos ajuda a melhor evangelizar na rede, para que não caiamos na fugacidade virtual: “O testemunho cristão não se faz com o bombardeio de mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros. A nossa luminosidade não derive de truques ou efeitos especiais, mas de os fazermos próximo, com amor, com ternura, de quem encontramos ferido pelo caminho”.

Agosto é o mês das vocações

13 ago

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Estamos no mês de agosto e, como de praxe, a Igreja no Brasil celebra-o dedicando às vocações. Neste ano, a Campanha da Fraternidade e a Jornada Mundial da Juventude motivaram a todos evocando os temas da missão e do discipulado. Este Mês Vocacional, portanto, pretende ser um momento de reavivamento da nossa vocação e um tempo favorável para que cada um de nós assuma seu ministério ora recebido no batismo.

Embora as vocações lembradas neste tempo sejam relevantes, uma delas se reveste de dupla importância: a Sacerdotal! Primeiro porque o padre no seu ministério atua in persona Christi, ou seja, já não é ele, mas Jesus Cristo que assume suas ações eclesiásticas; em segundo porque sob sua orientação o povo caminha em busca da vida eterna, prenunciando o Reino de Deus aqui e agora.

A Igreja, portanto, dedica o início do Mês Vocacional ao padroeiro dos sacerdotes – São João Maria Batista Vianney (04/08). Esse santo exemplifica o teor sacramental vivido por um padre que, no seu momento histórico, enfrentou adversidades na família e na própria instituição religiosa, mas superou-as em prol de um bem maior: a de servir e amar o próximo.

A trajetória vocacional do Cura de Arns se assemelha a de muitos sacerdotes. Inclusive, podemos apontar alguns elementos essenciais na formação da sua vocação que fazem parte da de um padre. A família, os amigos, a comunidade, a faculdade, o Bispo, todos esses são importantes, mas não fundamental como é o aceite, ou não, da própria pessoa.

O grande protagonista da vocação sacerdotal é o próprio candidato ao sacerdócio. O beato João Paulo II, na exortação apostólica “Pastores Dabo Vobis”, afirma que “(…) o próprio candidato ao sacerdócio deve ser considerado protagonista necessário e insubstituível na sua formação: toda e qualquer formação, naturalmente incluindo a sacerdotal, é no fim de contas uma autoformação” (69).

O documento afirma ainda que embora a pessoa tenha a prerrogativa derradeira de escolha, deve crescer nele “(…) a consciência de que o protagonista por antonomásia da sua formação é o Espírito Santo que, com o dom do coração novo, configura e assimila a Jesus Cristo Bom Pastor: nesse sentido, o candidato afirmará a sua liberdade da maneira mais radical, ao acolher a ação formadora do Espírito” (idem). Desta mesma forma se dão as demais vocações lembradas neste mês: vida familiar, vida consagrada e ministérios e serviços na comunidade.

Vamos consagrar nossa vocação ao serviço de Deus e do próximo. Ave Maria…

Solenidade de Pentecostes

18 maio

pentecostes (1)Vem Espírito que é Santo, dá-me teu encanto, traz-me a conversão, faz de mim libertação. Transforma tudo que eu sou, e infunde em mim o teu amor, ô,ô,ô.

Neste domingo, dia 19 de maio, a Igreja comemora a solenidade de Pentecostes. Para o povo judeu era tempo de comemorar a colheita do trigo. Vinha gente de todos os cantos para Jerusalém. Os primeiros frutos da colheita eram oferecidos no Templo.

Após da morte de Jesus, 50 dias depois, o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos. Estes estavam reunidos no mesmo lugar, ou seja, estavam com medo, receosos de testemunhar o Ressuscitado, tudo aquilo que viram e ouviram do mestre Jesus não fora suficiente para impulsioná-los à missão. Relata o evangelista João que Jesus entrou na sala onde todos estavam e no meio dos discípulos desejou-lhes a sua paz. Era verdadeiramente Jesus, tanto que eles se “alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,21). Este é o sentimento que devemos ter quando encontramos Jesus ressuscitado. “Alegremo-nos e nele exultemos”.

Depois da paz que Jesus provoca, Ele envia seus discípulos em missão. E todos recebem o poder do Espírito Santo. A simbologia utilizada na primeira leitura (línguas de fogo, barulho, forte ventania), quando todos ali ficaram cheios do Espírito Santo, demonstra que a passividade do cristão dá lugar a uma nova criatura, disposto a pôr em prática a missão do próprio Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres; para sarar os contritos de coração, anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).

Na segunda leitura, no entanto, Paulo alerta à comunidade em relação à diversidade de dons e ministérios que não devem ser utilizados para crescimento ou valorização pessoal, mas sim: “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12,7). (EAC)

 

Tríduo Pascal: a nossa profissão de fé!

26 mar

A crucifixão de Jesus é consequência da sua ação libertadora em favor dos excluídos pelo sistema político e econômico, mantido pelo Império Romano, e pelos preceitos religiosos do Templo, ou seja, da Igreja. Jesus assume a causa do seu povo. Sua ação supera as estruturas de escravidão impetradas pelo governo dos homens (social e religioso) e anuncia um novo modo de vida e de relação humana, baseado, principalmente, no amor ao próximo e na inclusão de pessoas abandonadas pela sociedade.

Para entender o mistério pascal que nos cerca nesse tempo de reconciliação com Deus, é preciso compreender e participar intensamente do Tríduo Pascal. Com início na quinta-feira o Tríduo Pascal é um período de três dias que antecede a Páscoa, a ressurreição de Jesus. É o momento propício para cada um de nós revivermos os passos de Jesus: a última ceia com seus apóstolos, o caminho do calvário e sua morte e, finalmente, sua vitória sobre a morte.

Clique aqui e leia texto completo.

Teologia 2012: Discurso de formatura

17 dez

A noite de sexta-feira, dia 14 de dezembro, foi marcada não só pela intensa chuva que caiu na cidade de São Paulo, em especial na região da zona norte, mas também pela alegria de um grupo de 40 pessoas que, em meio aos trovões e poças d´água, promoveu sua conclusão de curso. Após cinco anos de estudo, esses homens e essas mulheres, concretizaram sua caminhada no curso de Teologia.

O evento iniciou-se com a realização da santa Missa, celebrada pelo diretor do curso, Padre Valeriano Costa e concelebrada por alguns dos padres professores da faculdade. Em seguida, e já com a presença de todos os formandos, seus familiares e amigos, começou o momento mais importante da noite: a colação de grau.

A cada nome chamado, alegria e saudade se misturavam. Um sonho iniciado há cinco anos, agora tornava-se realidade. Depois das homenagens, discursos, hino nacional, todos se encaminharam para o coquetel festivo em comemoração aos novos téologos da Igreja católica.

Clique e leia o discurso de formatura…

Agosto: mês vocacional por excelência

14 ago

Somos todos vocacionados à vida!

Neste mês a Igreja dedica carinho especial à reflexão e oração pelas vocações. É o mês vocacional por excelência. Vocação é a “disposição natural e espontânea que orienta uma pessoa no sentido de uma atividade, uma função ou profissão”. Essa orientação não é uma ação apenas humana, mas sim Divina. É Deus quem age na história e nos convoca para viver à sua “imagem e semelhança” nosso batismo. É por esse sacramento que nascemos para uma vida nova, agora sob o paradigma de Jesus Cristo, expressão máxima do amor de Deus por toda a Sua criação.O Papa Bento XVI, na mensagem pelo 49º Dia Mundial de Oração Pelas Vocações, propunha como reflexão a “vocação como dom do amor de Deus”. Esse amor, vivido em todas as dimensões da pessoa, deve impulsionar a vida cristã para uma abertura ao Divino. Esse encontro se torna possível e viável porque direcionamos nosso amor ao próprio Deus e ao próximo.

O tema, portanto, deste mês vocacional é pertinente: “Chamados à vida plena em Cristo!”. Jesus Cristo é modelo de vida plena, pois é extensão do amor de Deus. Deus chama a cada um de nós a todo o momento. Somos convocados porque alguém precisa de nós. É preciso, pois, saber escutar o chamamento de Deus. Condição essencial para isso é silenciar-se e ouvir o que Ele quer falar. Quando nossa atenção se volta para outros “chamados” (egoísmo, intolerância, indiferença, individualismo), nos afastamos do amor de Deus e sufocamos nossa vocação.

A vida é plena em Cristo, mas deve ser exercida, praticada, direcionada a partir da perspectiva vocacional de cada um. Se a vocação é para o Ministério Ordenado (primeiro domingo de agosto), que seja exercido no amor ao próximo e no serviço pastoral; se é para a Vida em Família (segundo domingo), que seja na prática fraterna da dedicação aos filhos, na geração de vida, do respeito mútuo, da construção de valores; caso a vocação é para a Vida Consagrada (terceiro domingo), não obstante remeta a esses(as) vocacionados(as) o ardor de permanecer na contemplação orante da Palavra e na assistência ao próximo; se é para os Ministros Não Ordenados (quarto domingo), onde aqui se inserem todos os cristãos, que esses exerçam sua vocação na assunção dos diversos ministérios da paróquia/comunidade, testemunhando e difundindo no seu local de trabalho, de estudo, ou de lazer, o Evangelho, a boa-nova do Reino de Deus.

“Vem e segue-me” é o convite que Jesus faz a cada batizado. É um chamado que amadurece ao longo da vida, até o nosso “sim” final. Embora teimemos em postergar nosso aceite, Deus não desiste e vai chamando a cada um pelo nome.

Que Nossa Senhora, mãe da Igreja e modelo dos seguidores do Evangelho, ajude-nos a responder “sim” ao chamado de Deus e, assim, possamos viver a vocação nossa de cada dia! Amém. (EAC)

O povo de Deus em missão (15º DTC)

15 jul

Todo batizado deve continuar a missão de Jesus Cristo

Na primeira leitura dois sacerdotes travam um diálogo: Amasias e Amós. Este serve a Deus, chamado a ser oráculo do Senhor por vocação; aquele, funcionário do rei, defende os interesses do poder dominante. Ambos defendem um projeto. O do dominador, na qual está inserido Amasias, quer cada vez um povo oprimido e escravo, uma servil ao rei. O do libertador, ao contrário, prioriza a liberdade como fonte de felicidade e de realização humana; deseja um povo irmão, capaz de amar e de servir o próximo, não por obrigação, mas por amor.

O profeta profissional anuncia os interesses daquilo que o seu rei deseja. O profeta de vocação revela aquilo que Deus anuncia, é um servidor da Palavra, por isso denuncia também as injustiças contra o povo. Não pode se calar diante da opressão e da corrupção. O seu Deus é da justiça e da verdade. Por isso, envia Amós “Vai profetizar para Israel, meu povo”.

Amós reafirma que não é profeta ou filho de profeta, porque não é uma opção pessoal ou hereditária, ou profissional, é o Senhor Deus que chama a cada um de nós a ser profeta e missionário. Não há distinção de pessoa no chamado de Deus. Quando Deus nos escolhe nãoadianta fugir. Ele nos prepara e nos envia em missão.

Já a segunda leitura é um hino de louvor a Deus. Na gratuidade da missão de cada um de nós, Deus nos confirma para que sejamos santos e irrepreensíveis no amor ao próximo. Pelo Batismo somos enxertados na videira, cujo tronco é Jesus Cristo, assim somos predestinados para sermos filhos adotivos de Deus por intermédio do Messias. A nossa santificação se dá pela ação do Espírito Santo e na prática do amor ao próximo. Jesus é o evangelho vivo, encarnado, que veio nos mostrar o Pai.

 O Evangelho apresenta Jesus enviando os discípulos em missão. Para ser missionário do Pai é preciso desprender daquilo que nos aprisiona e nos afasta da verdadeira missão. Não precisamos carregar “coisas” demais, o desprendimento requer que acreditamos e depositemos a fé num único Deus. Não precisamos de falsos deuses, assim como o profeta Amós denuncia os pseudos profetas. O caminho para Deus está cheio de obstáculos, temos muitos motivos para passar ao largo do verdadeiro trajeto que conduz à felicidade, preferimos, muitas vezes, optar pela felicidade efêmera, passageira, baseada nas tentações do ser, do ter e do poder.

A nossa missão começa quando cada um de nós, de coração aberto a Deus, se converte. A minha conversão primeiro, depois a do outro. Como discípulos e missionários de Deus, como afirma o Documento de Aparecida, somos chamados a seguir de perto os passos de Jesus Cristo. Estaremos cada vez mais parecidos com o Mestre à medida que praticarmos as bem-aventuranças do Reino, no acolhimento ao necessitado, ao doente, na prática da caridade e no cumprimento à missão.

Cada um de nós tem uma missão. Jesus chamou seus discípulos para uma missão precisa, a de anunciar a boa-nova do Reino a todas as nações. Quanto mais estamos enxertados na videira que é Jesus, mais felizes nós devemos estar e anunciar com alegria esse encontro.

A missão não é a elaboração de um programa de tarefas a serem cumpridas ou a conclusão de um projeto, como assinala o Documento de Aparecida, mas sim a experiência do “acontecimento do encontro com Cristo, testemunhá-lo e anunciá-lo de pessoa a pessoa, de comunidade a comunidade (…) (DA 145).

O discípulo missionário sabe que “sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há presente, não há futuro” (DA 146). Cada um de nós deve tornar visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para com os pobres e pecadores, os doentes de toda natureza (física, psicológica, espiritual) e os possuídos pelo demônio (aqueles que causam intrigas e dividem a comunidade, famílias, relações etc.).

Quando estamos imbuídos dessa missão, como vocacionados por Deus, como Amós na primeira leitura, unidos a Cristo no seu amor, aí estaremos caminhando para nossa santidade. Para que assim vivamos não o conseguiremos sozinhos, valendo-se apenas das nossas próprias forças e desejos, Deus envia o Espírito Santo para nos vitalizar e encorajar nessa missão. Somos marcados com esse selo do Espírito, como afirma Paulo na carta aos Efésios.

Na carta aos Coríntios, Paulo apresenta uma imagem bonita dessa presença pneumatológica: “São vocês uma carta de Cristo redigida por nosso ministério e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo”.

A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro dos discípulos com Jesus Cristo, mas é ao mesmo tempo fonte inextinguível do impulso missionário. (EAC)

Nos passos de Maria para seguir Jesus

27 out

Caminhar com Maria para seguir Jesus” é o título da obra de José Adriano Gonçalves, publicado pela Paulus, São Paulo, no ano de 2010, que integra a coleção Temas Marianos lançada pela própria editora.

O livro apresenta uma espécie de itinerário mariano que deve ser seguido. O objetivo é fazer a experiência do seguimento a Jesus Cristo.  Para alcançar essa meta, o autor esmiuçou a obra em 42 tópicos, pequenos capítulos. A história desenrola-se num crescente de fatos e ações históricas envolvendo Maria e seu Filho, Jesus.

Apesar de o livro não apresentar uma subdivisão por capítulos, é possível notar a preocupação do autor em fazer uma narrativa seguindo os moldes do evangelho. Do capítulo I ao XIII desenrola-se a vida pessoal de Maria, do seu “sim” a Deus até o casamento com José. No XIV capítulo o texto apresenta o nascimento de Jesus, e aí se seguem outros capítulos retratando a vida do messias e da sua família. O ponto culminante desse bloco está entre os capítulos XXX e XXXII, onde é retratada a páscoa de Jesus: prisão e condenação à morte, a sua ressurreição e ascensão; e as dores de Maria. Num terceiro conjunto de capítulos, a figura de Maria é realçada em momentos significativos da comunidade após o evento Jesus Cristo, apontando para o seu caráter de missionariedade e discipulado. Nos capítulos XXXVII e XXXVIII o autor apresenta uma série de depoimentos pessoais, na qual Maria intercedeu para que a graça fosse alcançada. No último capítulo, uma carta de despedida do autor para Maria. É um texto de louvor diante da fragilidade humana, mas que encontra na fé mariana consolo e força para superar as dificuldades.

O autor adota uma dinâmica de apresentação textual interessante. Com a divisão em vários capítulos (41 no total), permite ao leitor a leitura fracionada, com temas independentes. Desta forma, a motivação é partilhada em cada situação vivida por Maria ou Jesus.

Dentre os objetivos propostos pelo autor da obra, posso considerar como fundamental a sua preocupação em destacar a figura de Maria como parte relevante da história da salvação. Para os leitores desse livro, tanto as pessoas engajadas numa comunidade, quanto aos neófitos na fé, não há dificuldades em interpretá-la e entendê-la.

Durante muitos anos o devocionismo mariano foi sobrevalorizado. A partir do Vaticano II, a Igreja pretendeu atenuar essa situação, apontando para a real importância da devoção. Neste sentido “Caminhar com Maria para seguir Jesus” contribui para elucidar o papel que Maria ocupa como mãe de Jesus.

A fragmentação da obra em muitos capítulos dificulta uma apresentação pormenorizada desses. No entanto, quero destacar elementos registrados pelo autor que merecem ser anotados. O primeiro destaque se apresenta no segundo capítulo: a radicalidade da adesão de Maria à proposta de ser a mãe do Senhor. O autor compara esse “sim” de Maria à nossa adesão diária ao chamamento de Deus. Outro elemento chave da obra está no capítulo XI. Além de dizer “sim” a Deus, é preciso constantemente negar tudo que possa nos desviar do caminho de Deus. “(…) que o nosso ‘não’ a tudo o que contraria o Mestre seja autêntico, denunciando profeticamente as injustiças do mundo” (pág. 32). No capítulo XXV o cume da obra: Maria como mediadora e intercessora da fé, mas ela própria afirma “fazei tudo o que Ele (Jesus) vos disser”. Por fim, não poderia deixar de anotar os capítulos que tratam de Maria após o evento pascal de Jesus. Ela presente no Pentecostes, na missão da Igreja primitiva, a sua assunção e a presença do Espírito Santo. Ao final, o autor conclui a obra com relatos e experiências pessoais da presença mediadora de Maria.

Embora o autor enfatize em várias passagens a relevância do evento Jesus de Nazaré, ele não minimaliza a importância de Maria dentro do contexto da história da salvação. “Maria foi mestra de Jesus (…). Ela é o símbolo da fé que vive exclusivamente para Deus (…). Ela é modelo para todos nós, valorizando as pequenas coisas da vida, na simplicidade de viver” (pág. 54). Para José Adriano “Maria não é apêndice, ela é fundamental na execução do projeto em si”.

No afã de equilibrar as correntes mariana e cristológica, o autor é capaz de afirmar numa sentença que Maria é “o caminho mais direto, curto e rápido para Cristo”, e contradizê-lo no parágrafo seguinte: “É bom ressaltar que Maria não faz milagres. Ela é criatura como nós” (pág. 118).

O autor adota uma postura de equilíbrio ao tratar de Maria e Jesus. Essa é a ideia central da obra. Ele a defende, em todos os capítulos, ora apontando para a cristologia soteriológica, ora enaltecendo as intercessões marianas. Do ponto de vista textual o autor cumpre satisfatoriamente seu intento, embora cometa exageros, como os verificados nos capítulos XXVIII e XXXIX. No entendimento algumas considerações, a começar pelo título do livro. Por que não caminhar como o Mestre caminhou? Viver como Jesus viveu? Amar a Deus como Ele amou? Maria assim o fez, claro, e por isso é um modelo de fé para a Igreja. Nós também podemos fazer esse itinerário cristológico, direto, acompanhado pelo Senhor. Outro ponto a considerar são as comparações, demasiadas, com Maria.

O autor quer ressaltar que “caminhar” com Maria o acesso ao Filho é imediato, mas no excesso comparativo dá a entender que ela é a única “ponte” para Jesus.

Mesmo com essas ressalvas, em nada diminui a importância e a contribuição teológica que a obra proporciona. Aliás, o livro vai ao encontro do que apontou o Santo Padre Papa Paulo VI: “Antes de mais nada, a Virgem Maria foi sempre proposta pela Igreja à imitação dos fiéis, não exatamente pelo tipo de vida que ela levou ou, menos ainda, por causa do ambiente sócio-cultural em que desenrolou a sua existência, hoje superado quase por toda a parte; mas sim, porque, nas condições concretas da sua vida, ela aderiu total e responsavelmente à vontade de Deus (…).” (Por Eduardo Araújo de Castro, 4º Teologia – Noturno)

“Homens e Deuses” dá o que pensar

11 jul

O filme “Homens e Deuses” (França/2010), do diretor Xavier Beauvois, embora baseado em fatos reais, não é crível pelo desfecho amargo e sombrio em que são submetidos os corajosos monges franceses que estão em missão na Argélia, na década de 90.

A película apresenta uma convivência harmoniosa pouco comum para a região do Oriente, onde a população vivia numa situação de medo e de ataques de grupos fundamentalistas islâmicos. O Governo local tentava sem sucesso manter a paz. Os guerrilheiros, fortemente armados, não titubeavam em atacar vilarejos e matar inocentes. Tudo em nome de uma ideologia.

Os monges realizavam sua atividade missionária num pequeno vilarejo. A região era pobre. A assistência, tanto espiritual quanto medicinal, era dada pelos monges, que se autosustentavam com o plantio de alimentos na própria propriedade, chegando, inclusive, comercializá-los na “feira” local.

A situação transcorria tranquila até ocorrer um massacre contra estrangeiros que trabalhavam na região. Isso foi o estopim para crescer uma série de crimes violentos. O exército sabendo dos possíveis perigos que poderiam enfrentar os monges oferece ajuda, mas esses a recusam e decidem não retornar para o país de origem, a França. A partir daí a vida dos monges torna-se um misto de tormento e de provação da fé e da irmandade entre eles.

O filme apresenta algumas características interessantes na sua produção e desenvolvimento textual. A trilha sonora é mínima, os diálogos entre as personagens são curtos, sem forçar aspectos religiosos, com momentos intrigantes de silêncio levando o público ao questionamento. Destaque para a última parte do filme, quando os monges sentem que a morte está próxima. Semelhante à “última ceia” de Jesus, os monges estão numa refeição – seria a última deles – onde se misturavam os sentimentos: alegria, lágrimas, esperança, dor, tudo isso nas expressivas faces de cada um dos monges.